segunda-feira, 14 de novembro de 2011

PROTESTE JÁ


ARTE DE PAULO FERNANDO

Vivemos numa sociedade em que a moral está cada vez menor, refletindo-se em atos de corrupção política, violência, atrocidades e exploração. A cada dia que passa, desacreditamos mais e mais na classe política e nas “boas intenções” da classe dirigente. Não vemos a democracia na vida real, embora ela seja tão propalada nos meios de comunicação.

Recentemente, o músico gaúcho Tonho Croco – ex-vocalista da banda Ultramen – foi alvo de uma ação judicial por parte do Ministério Público, a partir de um ofício encaminhado por um deputado da Assembléia Legislativa do RS, por ter gravado uma música onde critica 36 deputados gaúchos que se auto-concederam 73% de reajuste salarial. Ora, num país onde os próprios políticos dizem que é impossível dar aumentos superiores a 10% aos trabalhadores, o ato dos deputados é um deboche.

Desta polêmica toda, gostei da postura do músico ao dizer que não podemos ficar passíveis a tais atos e que devemos protestar cada um a sua maneira. Uns fazendo passeatas, outros escrevendo para blogs e, no caso dele, fazendo música. O importante é usar sua criatividade e indignação para protestar.

Chegamos a um momento na sociedade que parece ser preciso pedir desculpas antecipadas, quando se pretende protestar contra algo ou alguém que está prejudicando um coletivo. Assim pergunto: onde está a tal democracia? Deputados, e outros que vivem de cargos eletivos ou por indicação, usarem os cofres públicos para engordar suas contas bancárias e resolver seus problemas individuais, à custa do sofrimento coletivo, é totalmente imoral. Proteste já!

Texto: Denílson Rosa dos Reis
Ilustração: Paulo Fernando (CE)

domingo, 11 de setembro de 2011

ALVORADA: 46 ANOS

Nossa cidade completa neste mês 46 anos. Veja um pouco de sua História através da trajetória da Família Rosa dos Reis.


A Família Rosa dos Reis é uma típica família alvoradense, formada no já emancipado Município de Alvorada. A família surgiu da união de Ari Teodorico Machado dos Reis e Maria Teresinha Gomes da Rosa, ambos oriundos do Município de Santo Antônio da Patrulha. A Família Reis deslocou-se para Alvorada em 1964 oriundos do Sertão do Rio dos Sinos – 5º Distrito de Santo Antônio da Patrulha. Já a Família Rosa chegou a Alvorada em 1965 vindo da Pedra Branca – 2º Distrito de Santo Antônio da Patrulha. A vinda foi resultado do problema da terra, ou melhor, da falta dela.


A Família Reis tinha como patriarcas Antônio e Maria Madalena Machado dos Reis e residiam em uma pequena chácara de 10 hectares com nove filhos. Assim, a terra era pouca, levando os filhos ao completar 18 anos a virem para Porto Alegre prestar serviço militar e depois ficavam em casa de parente para procurar trabalho. Quanto as meninas vinham para trabalhar em fábricas, tais como: Zivi-Hércules, Albarus, Taurus, Fogões Geral, Fogões Waling, Porcelana Renner, Matarazo... A Família Rosa tinha como patriarcas Bernardino Antônio e Guilhermina da Rosa e residiam em terras arrendadas. Portanto as perspectivas não eram nada boas e quando chegava a idade de trabalho o rumo era Porto Alegre. Desta forma ficava claro que o melhor para a família como um todo era juntar as economias possíveis e rumar para a zona urbana.


A escolha de Alvorada é uma questão socioeconômica. As famílias eram pobres e aqui os terrenos eram baratos, pois não havia nada de infra-estrutura – água, luz, esgoto, muitas ruas eram abertas em meio a chácaras para fins de especulação imobiliária. Também era uma oportunidade de iniciar um comércio – caso da Família Reis. O local escolhido para fixar moradia foi a Vila Fontoura, na rua Carlos Fontoura, a Família Rosa no nº 127 e a Família Reis no nº 421. A proximidade acabou aproximando Ari e Maria. A Vila Fontoura nesta época era um típico local surgido em meio a uma chácara. A luz foi instalada a partir de um mutirão dos moradores mais antigos a chegada das famílias, a água era de poço artesiano e o esgoto era a céu aberto. A Família Rosa e a Família Reis que deram origem a Família Rosa dos Reis é um exemplo do êxodo rural – deslocamento do campo para a cidade – do qual Alvorada abrigou e continua abrigando até os dias de hoje.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Texto originalmente publicado no livro Raízes de Alvorada

terça-feira, 23 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO: A SAÚDE DO PROFESSOR


Ainda hoje, depois de quase 20 anos atuando no Magistério, escuto pessoas comentando que a vida de professor é um paraíso, qualquer data comemorativa vira feriado, tem dois meses de férias e trabalha poucas horas diárias. Realmente, o calendário escolar é flexível quanto aos feriados, pois dos 360 dias anuais, o aluno tem 200 dias letivos (aula). Isto também leva a possibilidade de 45 dias de férias mais o recesso de uma semana em julho. Quanto a poucas horas diárias, é uma opção pessoal e/ou de necessidade.


Com um salário básico de “três dígitos” e, no caso do Rio Grande do Sul, bem longe da casa dos 1000, muitos professores fazem concurso para 40h semanais e, assim que possível, pegam uma convocação de mais 20h, totalizando 60h semanais, o que leva o professor a trabalhar 3 turnos diários. Não podemos esquecer que além de estar na sala de aula por no mínimo 48h destas 60h, o professor precisa de tempo para preparar as aulas, elaborar e corrigir avaliações, além de buscar uma atualização permanente através de cursos, leituras e informações diárias do que acontece no mundo.


Somado a este quadro exaustivo de trabalho, temos um sistema que levou à corrupção governamental, desestruturação da família, entre outros tantos problemas que acabam estourando nas crianças, cada vez mais abandonadas por todos e largadas dentro das instituições de ensino, como local de redenção para suas vidas. Mas o resultado é desanimador. As crianças não apresentam limites e o conflito com um professor cansado e, muitas vezes estressado, é “quase” inevitável.


O resultado de tudo isso desemboca na saúde do professor. Os casos de professores que precisam de medicamentos antidepressivos é cada vez maior, sem falar numa parcela que, mesmo após medicamentos e terapias, a única solução é o afastamento de suas funções. A situação é muito séria!


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Paulo Fernando (RS)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

TRANSGÊNICOS


Certa vez Luís Fernando Veríssimo escreveu que na polêmica dos transgênicos você é a favor ou contra, mais por uma questão ideológica, do que por dados de pesquisa que possam te convencer. Assim, como Veríssimo e muitos outros, sou, a priori, contra os transgênicos, mas ao ler a entrevista concedida por Jeffrey M. Smith ao jornal Extra Classe (maio/2004), aumentei minhas convicções contrárias aos transgênicos.


Jeffrey M. Smith é diretor fundador do Instituto para Tecnologia Responsável, além de membro de vários comitês de Engenharia Genética. Esteve no Brasil para falar de transgênicos e divulgar seu livro “Sementes do Engodo – As mentiras da indústria e do governo sobre a segurança dos alimentos transgênicos que você está comendo” (tradução livre).


Um dos discursos pró-transgênicos, que escutamos, é que não há pesquisa que comprove o mal das sementes geneticamente modificadas. Como muitos estudos são patrocinados pela indústria, eles são projetados para evitar que se encontre qualquer problema. Smith fala de leite que foi pasteurizado 120 vezes mais num esforço para destruir um determinado hormônio. Ou seja, muitas pesquisas apresentadas na imprensa são controladas por aqueles que têm interesse na liberação dos transgênicos.


Não podemos esquecer os interesses imperialistas dos Estados Unidos. Hoje aumenta a exportação de alimentos não-transgênicos do Brasil para o mercado asiático e europeu. Por isso, não é de se estranhar a pressão dos norte-americanos para a liberação dos transgênicos no Brasil, assim, forçando Ásia e Europa a aceitar mais soja transgênica.


Mas o argumento mais ridículo é que os transgênicos vão acabar com a fome no mundo. Ora, para acabar com a fome não é necessário entupir o povo de alimentos geneticamente modificados, pois convém salientar que os que passam fome não terão acesso a estes alimentos.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Marcelo Tomazi

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ELEIÇÕES 2004


Amigos, o artigo deste é mês é datado, mas ainda não tinha postado na internet.

Encerrado mais um pleito municipal, Alvorada apresentou como resultado a mudança na direção da prefeitura. Após oito anos de Administração Popular (PT e seus aliados), a oposição, formada por partidos que governaram a cidade antes do PT e tendo a frente o PTB, assume o comando. Passada a disputa, as comemorações e as frustrações, ficamos com as reflexões.

Acompanhamos uma eleição bastante diferente em nossa cidade. Por um lado, o PT, a exemplo da campanha que levou Lula ao Palácio do Planalto, achou parceria no PL: o partido dos “trabalhadores” coligado com o partido dos “patrões”. O PT fez uma das campanhas mais caras que já se presenciou, acredito até que a maior. Fica paradoxal ver o PT usar das mesmas armas da direita para manter o poder. Por outro lado, o PTB/PDT/PMDB, ao que parece, usaram expedientes pouco éticos, as chamadas “baixarias” para desmerecer o candidato petista, e as pichações nos muros da cidade ainda estão aí para mostrar, pois provar ninguém realmente poderá.

Em que pese tudo isso, o pleito foi disputadíssimo, a vantagem de aproximadamente 7 mil votos ao vencedor poderia mudar com os quase 11 mil votos somados dos outros candidatos com os brancos e nulos. Este foi outro ponto interessante, mesmo com campanhas caras do PT e do PTB, 10% do eleitorado disse não aos dois: nem o continuísmo do PT, nem à volta ao passado dos partidos tradicionais da cidade.

Quanto a Câmara de Vereadores, ganhou a vaga quem investiu pesado na campanha. Maior propaganda ainda é sinônimo de mais votos. Urge revermos estas coligações pouco ideológicas e meramente eleitoreiras como as dos dois candidatos majoritários, bem como os gastos de campanha e a obrigatoriedade do voto. Daqui a dois anos, tem mais, e mudanças são necessárias para o avanço da democracia em nosso país.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Alex Doeppre (RS)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

13 DE MAIO


Em 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, decretando oficialmente o fim da escravidão no Brasil, último país que ainda mantinha o escravismo na forma da lei. Passado mais de 100 anos, um século após, os afro-brasileiros têm o que comemorar ou refletir?

A Lei Áurea não nasceu da boa vontade da Princesa, mas foi fruto de um intenso movimento abolicionista e também dos interesses de escravocratas decadentes que visavam se livrar de escravos dos quais não vislumbravam mais lucros. Anterior a Lei Áurea, tivemos a Lei do Ventre Livre (1871) que não teve êxito, pois não veio acompanhada de creches para os recém-nascidos. Já a Lei dos Sexagenários (1885) também não vingou, pois faltou ao governo providenciar asilos para os libertos.

Assim como nas leis anteriores, na Áurea, o governo não criou condições para o futuro dos ex-escravos, como o fomento de um amplo mercado de trabalho capaz de absorver esta nova mão-de-obra, agora assalariada.

Os dias de hoje são reflexos de nossa História. Quando vemos os afro-brasileiros, todos descendentes de escravos, marginalizados e compondo a maioria da população miserável do país, conseguimos compreender os caminhos da História.

Como nós somos os protagonistas da História, podemos traçar novos rumos para a sociedade brasileira e, assim, revertermos um erro que ainda não conseguimos corrigir.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Joe Nunes (RS)

terça-feira, 12 de abril de 2011

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

Nos últimos meses andei lendo alguns “gibis” (revistas em quadrinhos) com a temática ‘western’. Estas HQs (histórias em quadrinhos) normalmente retratam o chamado ‘Velho Oeste’, onde homens andavam armados com seus revólveres na cintura, prontos para resolverem suas diferenças, quando necessário, na “bala”.


Lembrei-me destas HQs durante minhas férias. Estava no Litoral gaúcho e numa madrugada de sábado para domingo acordei com o barulho de disparos de revólveres, gritos histéricos de mulheres e sirenes de carros policiais.


Durante toda a história da humanidade, em muitos episódios, os seres humanos têm resolvido suas diferenças mais pelo instinto selvagem da violência do que pela razão e respeito à vida.


Com o aumento populacional ocorrido na segunda metade do século passado (século XX), os casos de violência e acertos de contas têm aumentado proporcionalmente à população. Quando se conversa com os jovens – grupo social que mais se envolve com a violência – vemos que os motivos são pouco relevantes: “não fui com a cara dele”; “ficou cuidando a minha mina”; etc.


A cada dia que passa, vemos as tragédias repetirem-se, mas aquilo que alguns anos atrás era notícia catastrófica, hoje não passa de estatística de plantão de polícia.


Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Luciano Irrthum (MG)



quinta-feira, 10 de março de 2011

ANGLICANISMO EM ALVORADA


O culto Anglicano tem sua origem na Inglaterra, tendo sido oficializado no período da Reforma Religiosa a partir do rei Henrique VIII, que, em alguns livros de história e tido como criador da Igreja Anglicana, quando na realidade apenas oficializou um culto antigo no país. Da Inglaterra a Religião Anglicana – que tem as mesmas características da Religião Católica e, podemos assim dizer, é irmã da Religião Luterana – espalhou-se pelos quatro cantos da Terra. A chegada no Brasil deve-se a missionários vindos dos Estados Unidos.


Em Alvorada ela chegou por volta de 1954 quando foi criada a Missão de São Miguel e Todos os Anjos. É chamada de Missão, pois possui aproximadamente 70 membros. Para ser uma Paróquia teria de possuir algo em torno de 100 membros. Quem trouxe a Igreja para Alvorada foi o Reverendo Nadir Simões Mattos. O Reverendo Nadir, que era cunhado de Leonel Brizola, foi um grande missionário e sempre esteve na busca de novas congregações a trabalho da Diocese – sede da Igreja, situada em Teresópolis, Porto Alegre. Foram também responsáveis pela fundação da Igreja em Alvorada os casais: Tertuliano e Eva Martinez, Valter e Maria Quintilhano e André e Francisca Manique Barreto.


Além da Igreja, é criada a Escola Euclides da Cunha, vinculada a Igreja. A Igreja e a Escola funcionaram em uma casa alugada na Rua Maria do Carmo até a compra definitiva de um terreno na Rua Ricardo Faique Nunes, 124, parada 44. A vinda da Igreja está intimamente ligada à questão da Educação. O Passo do Feijó fazia parte do 3º Distrito de Viamão, que não atendia plenamente as carências educacionais. A falta de uma Escola no Distrito foi percebida pelos Diretores do Colégio Cruzeiro do Sul, tradicional Instituição de Ensino de Porto Alegre. Como a intenção era abrir uma Escola, criou-se também a Missão.


A Escola Euclides da Cunha oferecia o Curso Primário, e quem ministrava as aulas era o Professor Sérgio e sua esposa Professora Lori, que foram substituídos depois pelo Professor Auri Maia e Professora Norci. É importante ressaltar que os Professores eram também Seminaristas da Igreja, portanto tinham também a questão da fé junto a Educação. Com a emancipação de Alvorada, a Educação passa a receber uma preocupação maior por parte do poder público. A Igreja resolve, desta forma, fechar a Escola Euclides da Cunha. Os móveis e utensílios foram doados para uma Escola Municipal.


Na Segunda metade da década de 1960 vieram para Alvorada uma série de famílias oriundas da Missão do Advento da Quebrada do Rio dos Sinos, Município de Santo Antônio da Patrulha, hoje Caraa. Famílias de Antônio e Maria Machado dos Reis, Alziro e Nadir Rangel dos Reis e Adolfo e Adélia Muniz dos Reis e seus descendentes compõem hoje o grosso da atual congregação de Alvorada. Em 1989 um incêndio destruiu toda a capela da Igreja, não sobrando móveis nem documentos sobre a Igreja em Alvorada, o que prejudica um trabalho de pesquisa. Atualmente a congregação luta para manter a Missão e comemora a construção do novo Templo.


Texto: Denilson Reis

Originalmente publicado no livro Raízes de Alvorada