sábado, 13 de dezembro de 2014

ELEIÇÕES 2014

Arte de Laudo Jr
Tinha uma expectativa em relação ao resultado das eleições deste ano, a partir das mobilizações do ano passado, com o movimento “Acorda Brasil”. Minha expectativa ficava só no campo do resultado, pois não acreditava em grandes surpresas. De qualquer forma, acho importante fazer uma rápida análise destes resultados.

No ano passado, 2013, escrevi um artigo onde colocava o movimento “Acorda Brasil” sob o julgamento das eleições de 2014. Meu questionamento era em relação aos reflexos que o movimento poderia trazer nas urnas, já que muita gente saiu de casa pedindo um basta para a corrupção e gritando palavras de ordem contra os partidos e suas bandeiras. Particularmente, achei muito bacana e importante o movimento, mas pedia que ele se estendesse para as urnas em 2014.

Ao pedir o fim da corrupção, o movimento se colocava contra o sistema burguês vigente no país, onde as campanhas dos partidos majoritários são superfaturadas com gastos enormes, tudo patrocinado pelas mega corporações. Assim sendo, não bastava tirar o PT/Dilma do poder, trocando por outra sigla defensora do sistema atual. Seria trocar seis por meia-dúzia. Tanto que chegou à beira do ridículo o slogan do PSDB/Aécio, “Muda Brasil”. Como mudar um país votando no candidato do partido que consolidou o capitalismo neoliberal no Brasil?

Assim, esperava que ocorresse uma votação mais significativa nos partidos que apresentam um programa de rompimento com o sistema, como o PSOL ou o PSTU, partidos que estão sempre à frente das mobilizações e das lutas. Mas isso não ocorreu, o PSOL/Luciana fez 1,5% dos votos, enquanto o PSTU/Zé Maria, fez 0.9%; é muito pouco! Podemos então ver por outro lado, as mobilizações seriam contra bandeiras partidárias, então isto poderia se traduzir por uma quantidade significativa de votos nulos e, assim, abrir um debate sobre a representatividade e legitimidade dos eleitos. Mas, infelizmente, ficamos com 5,8% no 1º Turno e 4,6% no 2º Turno, de votos nulos.

Mais uma vez as urnas serviram aos seus patrões. Os grandes poderosos políticos e seus aliados econômicos se consolidaram como campeões de voto, deixando o grito das mobilizações de junho/2013 como um fato isolado na História do Brasil.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Laudo Ferreira Júnior (SP)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

ESTÃO PRIVATIZANDO A EDUCAÇÃO

Arte de Rafael Costa (RS)
No mês de janeiro de 2014, assisti em um noticiário de TV que, em Valparaiso/GO, a forma que o Governo estadual encontrou para acabar com a violência em uma escola pública de periferia foi colocar a Polícia Militar dentro da escola. Trabalho como professor na Rede Pública de Ensino do RS e já ocorreram momentos em que acionamos a Patrulha Escolar, um grupo de policiais militares que são encarregados de atender ocorrências de violência nas escolas. Mas o que me chamou a atenção é que a Polícia Militar foi chamada para administrar a escola, transformando o local numa espécie de Escola Militar, não como formação de militares, mas pelo fato da adminstração ficar com o comando da Polícia.

A coisa funciona assim: o Governo reformou a escola, deixando impecável, coisa de colégio privado. O Diretor foi substituído por um policial que será encarregado de administrar junto com um corpo pedagógico, onde outros policiais farão parte. A parte da Educação Física ficará a cargo de policiais que cuidarão das atividades físicas dentro da disciplina militar. Os alunos serão obrigados a usar 4 tipos de uniformes. Será utilizada uma cartilha falando sobre prevenção a violência e outras questões envolvidas, como drogas, bulling etc. Os pais deverão pagar uma matrícula e mensalidades. Calcula-se que o custo por aluno que a família terá chegará a R$ 1.500,00 por ano.

Para mim isto é privatizar o ensino público com a desculpa de combater a violência. Mas o mais agravante vem agora. Na reportagem, um pai de aluno disse que não teria condições de arcar com estas despesas. A resposta da Secretaria de Educação foi a seguinte: não se preocupe que estaremos providenciando a transferência para outra escola. Na nova escola os pais não precisão pagar, é claro, mas ela não foi reformada e lá a Polícia Militar aparecerá só em necessidades de emergência. Os professores não terão respaldo para trabalhar com segurança e toda aquela questão que já se conhece.

Portanto, se você pode pagar, lhe daremos uma escola nova e com segurança. Se você não pode pagar, bem, te colocamos “naquela” escola, sucateada e dominada pela violência. Reitero, em minha opinião, acho que se trata, como coloco no título deste artigo, estão privatizando a Educação. Além disso, acredito que o fato pode ser enquadrado como uma atitude discriminatória, pois os alunos de pais não abastados são excluídos de estudar numa escola nova e com segurança. O que é para um deve ser para todos. Por fim, ainda tem a questão da administração na mão da Polícia Militar e a pedagogia que pode nascer daí, mas isso fica para outro momento.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Rafael Costa (RS)

sábado, 7 de junho de 2014

F9 – FERNANDÃO

Arte: Anderson Ferreira
Iniciei minha curtição pelo futebol com a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Nesta época também marcou minha opção por torcer pelo Colorado. O Internacional vinha de dois títulos nacionais (1975-1976) e na sequência ganhou o Campeonato Brasileiro de 1979 de forma invicta. Era o grande time do Falcão, mas eu ainda era um garotinho e pouco compreendia o significado daqueles três títulos. Para mim, a compreensão do que é o futebol ocorreu apenas na Copa do Mundo de 1982, na Espanha, onde Falcão estava jogando o fino da bola. Assim, mesmo não estando mais jogando no Internacional, virou referência para mim como o grande ídolo do clube.

Nas décadas de 1980 e 1990, na minha adolescência, sofri bastante torcendo pelo Internacional. O time não conseguia ganhar grandes títulos, arranhou algumas vezes no Campeonato Brasileiro e na Libertadores. Fora o título da Copa do Brasil de 1992, sobrou apenas os títulos do Campeonato Gaúcho, muito pouco para quem virou colorado na década anterior.

No início do século XXI, a história do Internacional começou a mudar e culminou com o sagrado ano de 2006 ao ganhar a Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA. Um jogador em especial tornou-se o símbolo deste Internacional vencedor, Campeão de Tudo como ficou conhecido ao ganhar todos os títulos possíveis para um clube de futebol. Este jogador atendeu pelo nome de FERNANDÃO.

Fernandão devolveu ao torcedor colorado a alegria de torcer, o sentimento de vencedor após duas décadas muito amargurantes. Voltamos a gritar “é campeão” e nos grandes títulos ele esteve lá, levantando os troféus que nos orgulham. Não vi Falcão vestindo a camiseta do Internacional ao vivo no Beira-Rio, mas tenho ele como ídolo e maior jogador de todos os tempos, mas vi Fernandão levantando a taça da Libertadores na “noite sem fim”, do dia 16 de agosto de 2006. Eu estava lá, no Beira-Rio, vendo aquele cara levantar a taça. Ele marcou meu imaginário campeão.

Hoje, 07 de junho de 2014, ao saber que o grande ídolo Fernandão não está mais entre nós, tendo nos deixado tão precocemente (36 anos), precisava escrever e dizer mais uma vez, “obrigado Fernandão, você fez eu voltar a sentir como é bom ser Colorado”.

Texto: Denilson Rosa dos Reis

Ilustração: Anderson Ferreira (RS)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

DIREITO DE GREVE

Arte de Batata
Os rodoviários de Porto Alegre fizeram um movimento de greve que ultrapassou duas semanas de paralisação. Tal fato, por si só, já é suficiente para suscitar opiniões dos meios de comunicação de massa e dos políticos, mas dado a tudo que vem acompanhado com tanto tempo de paralisação de uma categoria essencial para a sociedade, esta passou a manifestar-se, principalmente nas redes sociais, postando opiniões pró e contra a greve.

Primeiramente, vamos deixar claro que toda a categoria tem o direito de reivindicar um melhor salário e condições de trabalho, seja ela com um piso salarial alto ou baixo. O direito de luta deve ser preservado para todos, o que podemos questionar é a relevância dos argumentos dos grevistas e pelo que eles estão lutando, ou seja, se são justos e condizentes com a grande maioria da sociedade.

No caso dos rodoviários, me parece que a luta é justa. As passagens aumentam significativamente. O governo dá subsídios aos empresários sempre que possível. Os empresários estão ganhando mais a cada dia, e com isso, ficando mais ricos em cima da exploração de trabalhadores que têm uma extenuante carga de trabalho e salários que mal pagam suas contas no final de cada mês.

Nos meios de comunicação de massa é comum comentários depreciativos em relação à greve, colocando que é um absurdo e uma intransigência dos rodoviários em ficar tanto tempo deixando a população sem ônibus, causando transtornos, prejuízos dos empresários e até demissões daqueles que não conseguem chegar ao trabalho. Mas causou-me surpresa foi ver pessoas aderindo a este discurso e incorporando ao seu em postagens nas redes sociais. Mais uma vez fica claro que o grosso da população ainda serve como massa de manobra para aqueles que detêm o poder.

Mas por que a conta destes problemas deve cair no colo dos rodoviários? Os governantes, neste caso a Prefeitura de Porto Alegre e os empresários, também não estão sendo intransigentes com as revindicações dos rodoviários? Eles, então, também não devem ser responsabilizados pelo estado crítico que a cidade vive? Eu, enquanto trabalhador e explorado, estou ao lado dos rodoviários, até porque, quando o ônibus estiver nas ruas, voltarei a ficar até uma hora na parada para subir num ônibus lotado.

Neste momento, a sociedade (entenda-se trabalhadores), deveria ser solidária aos rodoviários. Em vez de serem atacados, devem ser saudados por acreditarem na luta e por nos mostrarem que é possível enfrentar os poderosos. Isso acarreta transtornos momentâneos, mas nada pode ser pior que a exploração dos trabalhadores, e isto, nós trabalhadores conhecemos muito bem.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Batata