Arte de Anderson Ferreira |
O título deste artigo procura sintetizar o que foi o ano mais significativo do século XX: 1968. Quarenta e cinco anos atrás jovens, operários, camponeses, negros e mulheres saíram às ruas mundo afora para manifestações de luta pelos seus direitos, além de protestos pela falta de democracia, contra a Guerra do Vietnã e até mesmo contra a “caretice” dos pais.
Mobilização Mundial
Daniel Cohn-Bendit um franco-alemão liderou um grupo de jovens estudantes da Universidade de Nanterre, Paris, insatisfeitos com o sistema autoritário e a burocracia da instituição. A partir daí os jovens foram as ruas e se deu um verdadeiro embate com as forças policiais. Embora os franceses recebam o rótulo de terem dado início as manifestações, elas ocorreram em vários momentos e países, cada um com suas especificidades e consequências. No México, 48 universitários foram mortos no famoso Massacre de Tlatelolco. O primeiro protesto contra a guerra no Vietnã a ser televisionado se deu em Berlim, Alemanha. Em Roma, Itália, os estudantes unidos aos operários fecharam a Universidade. Na então Tchecoslováquia, os soviéticos invadiram Praga para sufocar as tentativas de reformas dentro do sistema stalinista. Já nos Estados Unidos os protestos foram desde a contrariedade da Guerra do Vietnã até a luta dos direitos civis dos negros, liderados pelos Panteras Negras, passando pela busca de respeito as mulheres e gays.
Cenário Nacional
Assim como ocorria no resto do mundo, no Brasil os jovens também iniciaram seus protestos contra a reforma universitária do governo Costa e Silva, contra a repressão da Ditadura Militar implantada em 1964 e pela volta da democracia. A morte do estudante Edson Luís foi o mote para a explosão de uma manifestação gigantesca que desencadeou na famosa Passeata dos 100 Mil. No Rio de janeiro os estudantes organizaram uma passeata que acabou levando vários seguimentos a engajarem-se nela.
Contracultura
No campo cultural, os anos 1960 também foram efervescentes e, as mais diversas manifestações artísticas incorporaram-se ao espírito da rebeldia e contestação da época. O movimento hippie veio para apresentar uma forma de convívio coletivo que se opunha aos valores de uma sociedade capitalista, consumista, individualista e, principalmente, moralista e conservadora. Assim, a arte produzida estava nesta sintonia. Exemplos: a peça Hair que apresentava o movimento hippie e a chamada Era de Aquários; o festival de Woodstock e as molodias que saíam da guitarra de Jimi Hendrix; o Cinema Novo e o Tropicalismo no Brasil; as histórias em quadrinhos de Robert Crumb e Gilbert Shelton.
Reação Violenta
As manifestações que ocorreram em todo planeta foram severamente reprimidas pelos governos, fossem eles democráticos ou ditatoriais, de direita ou de esquerda. Diversas lutas campais foram realizadas em cidades como Paris, Chicago, México, Praga, Varsóvia, Rio de Janeiro. No Brasil a ditadura dos Generais chegou a seu auge autoritário com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI5) com a finalidade de desarticular os setores políticos de oposição, os movimentos populares, tanto urbano como rural. Além disso, abusou da violência e tortura contra presos políticos.
O Sonho Continua
Comemorar os 45 anos do Maio de 68, longe de ser apenas uma recapitulação histórica, é mostrar que os sonhos daqueles jovens ainda não estão mortos. Eles continuam no imaginário de milhares de jovens e adultos que continuam lutando contra o sistema, que teimam em não se renderem a avalanche do pensamento único da sociedade capitalista que tenta nos proibir de sermos o que somos. É proibido proibir de sonhar!
Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Anderson Ferreira (RS)