domingo, 22 de abril de 2012

CAPITALISMO X SOCIALISMO


Arte: Alex Doeppre

Em janeiro de 2005 ocorreu um debate sobre a bipolaridade capitalismo/socialismo nas páginas do jornal Correio do Povo de Porto Alegre a partir de uma resposta minha ao leitor Lúcio Borges que sentenciou que o socialismo é um “estelionato ideológico”. Confira, a seguir, o debate entre este articulista e o senhor Lúcio Borges que também contou com a participação de outros leitores do jornal.

“Dizer que o socialismo é um ‘estelionato ideológico’, como fez o leitor Lúcio Borges, é no mínimo desconhecer o processo histórico. Um pensamento ideológico não deve pagar por possíveis erros cometidos por pessoas ou governos. No mais, ‘estelionato’ é o que faz o capitalismo ao nos vender a ilusão da liberdade e do paraíso e nos deixar cada dia mais escravos do sistema.” (Denilson Reis)

“Capitalismo ou socialismo, para o povo não interessa o tipo de governo. As pessoas querem ganhar um salário que possa sustentar suas famílias e educar seus filhos.” (Joaquim Bentacur)

“O leitor Denílson Reis afirma que desconheço o processo histórico do socialismo. Historicamente, é sabido e notório que o socialismo não deu certo e só gerou pobreza, desgraça e miséria. Se era tão bom assim, por que tantas pessoas fugiram da Alemanha Oriental e tantas outras fogem de Cuba?” (Lúcio Borges)

“Em relação à carta de Lúcio Borges, esquece o leitor que a Alemanha foi espólio da guerra que iniciou e perdeu. Pagou pouco pelo mal que fez contra a população civil quando invadiu a Rússia. O muro deveria existir até hoje. Quanto aos cubanos que vão ilegalmente para os EUA, são em número muito menor do que os brasileiros que fazem o mesmo.” (Moacyr Freitas)

“O leitor Lúcio Borges fala sobre dois exemplos em que o socialismo não deu certo. Volto a repetir, não podemos negar um sistema por erros cometidos por pessoas ou por governos em sua implantação. Gostaria que o leitor procurasse uma sociedade em que o capitalismo proporcionasse benesses ao conjunto da população, não a um grupo privilegiado, dono dos meios de produção.” (Denilson Reis)

“Talvez o leitor Denilson Reis defenda o socialismo porque não sabe dos bons resultados sociais obtidos por sociedades capitalistas. No capitalismo, a economia depende do trabalho feito e dos riscos assumidos pelos cidadãos, e não do planejamento centralizado de um elite. O governo se empenha na regulamentação da economia e na provisão de serviços essenciais como a saúde e a educação. A Austrália, o Japão e os países da Escandinávia são bons exemplos.” (Ian Alexander)

“A carta de Ian Alexander só me faz reafirmar minhas convicções sobre o socialismo, pois seus pressupostos pregam a igualdade social. Por isso, defendo o socialismo e critico o capitalismo, que apenas nos dá esmolas. Não quero viver numa sociedade em que temos de  nos contentar com aquilo que os donos dos meios de produção admitem que a grande maioria possua. O acesso aos bens e serviços deve ser igual para toda a sociedade.” (Denilson Reis)

“Enquanto em Maastrich realizou-se a I Semana Européia de Responsabilidade Social Corporativa, patrocinada pelo governo holandês, pela Comissão Européia e por ONGs, nossos modernosos governantes, alçados de tupiniquins a globalização, ainda praticam a renúncia de receita pública em favor de empresas concentradores de renda. E, qual neobobos, ficamos nós outros a atestar o óbito do socialismo e a entoar glórias ao capitalismo.” (Juarez Guilhon)

“Leitor pediu que procurasse uma sociedade em que o capitalismo proporcionasse benesses ao conjunto da população. Alguns: Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Suíça, Áustria, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Portugal e inúmeros outros. Informo também que não existe socialismo sem capitalismo.” (Homero Itaquy)

“Nos países da Escandinávia, temos o capitalismo, mas com vigorosa orientação e regulamentação governamental, dirigidas ao bem-estar social: nos demais, temos desenvolvimento econômico concentracionista, não necessariamente desenvolvimento social. As benesses do capitalismo, nos países de economias desregulamentadas, são ínfimas em relação às mazelas que deixam, pois aí predomina o capitalismo selvagem e predatório.” (Juarez Guilhon)

“O capitalismo e o socialismo não são formas, nem sistemas, nem regimes de governo e sim são modos de produção, isto é, como os países se organizam para produzir e distribuir suas riquezas. Parece que no mundo contemporâneo não há um capitalismo nem um socialismo puro e sim um pouco de cada um. A história nos conta que no berço do capitalismo nasceu o cooperativismo, que é um ramo do socialismo. E quantas pessoas vimos se dizerem capitalistas autênticas e conduzirem-se para sistemas socialistas de produção?” (Luiz Tuparaí).

“Em resposta a Denilson Reis, no capitalismo as pessoas têm de se qualificar para não serem excluídas do processo (mercado de trabalho). Não podem ficar esperando pela benevolência do governo ou de entidades sociais. Já o socialismo tenta nivelar todo mundo por baixo.” (Lúcio Borges)

“Caro leitor Lúcio Machado Borges, concordo que, no capitalismo, as pessoas devam se qualificar para entrar no mercado de trabalho (CP 8/4). O problema é que a qualificação fica restrita aos que têm posses. Mas dizer que no socialismo se nivela por baixo é um equívoco. A educação em Cuba é de qualidade e estendida a toda a população.” (Denilson Reis)

“A afirmação do leitor Denilson Reis dizendo que a educação em Cuba é de qualidade não é verdadeira, pois, nas ditaduras, a educação é conduzida no sentido de bitolar professores e alunos; só pode ser ensinado o que serve à cúpula governante. O que pode haver em Cuba é escola para todos.” (José Disconzi)

“O leitor José Disconzi argumentou que, na ditadura de Cuba, a educação é conduzida no sentido de  bitolar professores e alunos, pois só é ensinado o que serve à cúpula. Mas no Brasil, não é a mesma coisa, apesar de nossa fachada democrática? No país de Fidel Castro, bem ou mal, ao menos há escola para todos, enquanto, aqui, milhares de crianças estão fora das salas de aula. Não defendo ditaduras, mas também não vejo liberdade e qualidade na educação pública brasileira.” (Leopoldo Arnold)

“O leitor José Disconzi diz que, com a ditadura castrista, é impossível educação de qualidade. Talvez seja verdade quando se tratar de formação ideológica, mas não vejo como o castrismo podar o conhecimento científico de cursos como Medicina, Arquitetura, Engenharia, Biologia, entre outras. Além do mais, se a ditadura bitola professores e alunos, não esqueçamos que no capitalismo vigora a ditadura do mercado.”  (Denilson Reis)

Ilustração: Alex Doeppre (RS)