Arte: Alex Doeppre |
Em janeiro de 2005 ocorreu um debate sobre a bipolaridade
capitalismo/socialismo nas páginas do jornal Correio do Povo de Porto Alegre a
partir de uma resposta minha ao leitor Lúcio Borges que sentenciou que o
socialismo é um “estelionato ideológico”. Confira, a seguir, o debate entre
este articulista e o senhor Lúcio Borges que também contou com a participação
de outros leitores do jornal.
“Dizer que o socialismo é um
‘estelionato ideológico’, como fez o leitor Lúcio Borges, é no mínimo
desconhecer o processo histórico. Um pensamento ideológico não deve pagar por
possíveis erros cometidos por pessoas ou governos. No mais, ‘estelionato’ é o que
faz o capitalismo ao nos vender a ilusão da liberdade e do paraíso e nos deixar
cada dia mais escravos do sistema.” (Denilson Reis)
“Capitalismo ou socialismo,
para o povo não interessa o tipo de governo. As pessoas querem ganhar um
salário que possa sustentar suas famílias e educar seus filhos.” (Joaquim
Bentacur)
“O leitor Denílson Reis
afirma que desconheço o processo histórico do socialismo. Historicamente, é
sabido e notório que o socialismo não deu certo e só gerou pobreza, desgraça e
miséria. Se era tão bom assim, por que tantas pessoas fugiram da Alemanha
Oriental e tantas outras fogem de Cuba?” (Lúcio Borges)
“Em relação à carta de Lúcio
Borges, esquece o leitor que a Alemanha foi espólio da guerra que iniciou e
perdeu. Pagou pouco pelo mal que fez contra a população civil quando invadiu a
Rússia. O muro deveria existir até hoje. Quanto aos cubanos que vão ilegalmente
para os EUA, são em número muito menor do que os brasileiros que fazem o mesmo.”
(Moacyr Freitas)
“O leitor Lúcio Borges fala sobre dois exemplos em
que o socialismo não deu certo. Volto a repetir, não podemos negar um sistema
por erros cometidos por pessoas ou por governos em sua implantação. Gostaria
que o leitor procurasse uma sociedade em que o capitalismo proporcionasse benesses
ao conjunto da população, não a um grupo privilegiado, dono dos meios de
produção.” (Denilson Reis)
“Talvez o leitor Denilson
Reis defenda o socialismo porque não sabe dos bons resultados sociais obtidos
por sociedades capitalistas. No capitalismo, a economia depende do trabalho
feito e dos riscos assumidos pelos cidadãos, e não do planejamento centralizado
de um elite. O governo se empenha na regulamentação da economia e na provisão
de serviços essenciais como a saúde e a educação. A Austrália, o Japão e os
países da Escandinávia são bons exemplos.” (Ian Alexander)
“A carta de Ian Alexander só me faz reafirmar minhas
convicções sobre o socialismo, pois seus pressupostos pregam a igualdade
social. Por isso, defendo o socialismo e critico o capitalismo, que apenas nos
dá esmolas. Não quero viver numa sociedade em que temos de nos contentar com aquilo que os donos dos
meios de produção admitem que a grande maioria possua. O acesso aos bens e
serviços deve ser igual para toda a sociedade.” (Denilson Reis)
“Enquanto em Maastrich
realizou-se a I Semana Européia de Responsabilidade Social Corporativa,
patrocinada pelo governo holandês, pela Comissão Européia e por ONGs, nossos
modernosos governantes, alçados de tupiniquins a globalização, ainda praticam a
renúncia de receita pública em favor de empresas concentradores de renda. E,
qual neobobos, ficamos nós outros a atestar o óbito do socialismo e a entoar
glórias ao capitalismo.” (Juarez Guilhon)
“Leitor pediu que procurasse uma
sociedade em que o capitalismo proporcionasse benesses ao conjunto da
população. Alguns: Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Islândia, Noruega,
Suécia, Dinamarca, Holanda, Suíça, Áustria, Inglaterra, França, Itália,
Espanha, Portugal e inúmeros outros. Informo também que não existe socialismo
sem capitalismo.” (Homero Itaquy)
“Nos países da Escandinávia,
temos o capitalismo, mas com vigorosa orientação e regulamentação
governamental, dirigidas ao bem-estar social: nos demais, temos desenvolvimento
econômico concentracionista, não necessariamente desenvolvimento social. As
benesses do capitalismo, nos países de economias desregulamentadas, são ínfimas
em relação às mazelas que deixam, pois aí predomina o capitalismo selvagem e
predatório.” (Juarez Guilhon)
“O capitalismo e o
socialismo não são formas, nem sistemas, nem regimes de governo e sim são modos
de produção, isto é, como os países se organizam para produzir e distribuir
suas riquezas. Parece que no mundo contemporâneo não há um capitalismo nem um
socialismo puro e sim um pouco de cada um. A história nos conta que no berço do
capitalismo nasceu o cooperativismo, que é um ramo do socialismo. E quantas
pessoas vimos se dizerem capitalistas autênticas e conduzirem-se para sistemas
socialistas de produção?” (Luiz Tuparaí).
“Em resposta a Denilson
Reis, no capitalismo as pessoas têm de se qualificar para não serem excluídas
do processo (mercado de trabalho). Não podem ficar esperando pela benevolência
do governo ou de entidades sociais. Já o socialismo tenta nivelar todo mundo
por baixo.” (Lúcio Borges)
“Caro leitor Lúcio Machado
Borges, concordo que, no capitalismo, as pessoas devam se qualificar para
entrar no mercado de trabalho (CP 8/4). O problema é que a qualificação fica
restrita aos que têm posses. Mas dizer que no socialismo se nivela por baixo é
um equívoco. A educação em Cuba é de qualidade e estendida a toda a população.”
(Denilson Reis)
“A afirmação do leitor Denilson Reis dizendo que a
educação em Cuba é de qualidade não é verdadeira, pois, nas ditaduras, a
educação é conduzida no sentido de bitolar professores e alunos; só pode ser
ensinado o que serve à cúpula governante. O que pode haver em Cuba é escola
para todos.” (José Disconzi)
“O leitor José Disconzi
argumentou que, na ditadura de Cuba, a educação é conduzida no sentido de bitolar professores e alunos, pois só é
ensinado o que serve à cúpula. Mas no Brasil, não é a mesma coisa, apesar de
nossa fachada democrática? No país de Fidel Castro, bem ou mal, ao menos há
escola para todos, enquanto, aqui, milhares de crianças estão fora das salas de
aula. Não defendo ditaduras, mas também não vejo liberdade e qualidade na
educação pública brasileira.” (Leopoldo Arnold)
“O leitor José Disconzi diz que, com a ditadura castrista,
é impossível educação de qualidade. Talvez seja verdade quando se tratar de
formação ideológica, mas não vejo como o castrismo podar o conhecimento
científico de cursos como Medicina, Arquitetura, Engenharia, Biologia, entre
outras. Além do mais, se a ditadura bitola professores e alunos, não esqueçamos
que no capitalismo vigora a ditadura do mercado.” (Denilson Reis)
Ilustração: Alex Doeppre (RS)